Oitenta anos de vida, sob o olhar de James Pizarro

Denzel Valiente

Oitenta anos de vida, sob o olhar de James Pizarro

Completar 80 anos é um sonho de muitas pessoas. Ainda mais quando esse tempo de vida é acompanhado de muitas conquistas pessoais e profissionais. Foi em um apartamento bem iluminado e com uma vista para os morros que cercam Santa Maria, que nós fomos recebidos pelo professor e colunista James Pizarro, para uma conversa que celebra suas oito décadas de história.

Desde 2016, Pizarro é articulista quinzenal da edição impressa do Diário de Santa Maria, antes disso, publicou, por mais de 40 anos, artigos nos extintos jornais A Razão e O Expresso. Mas nosso homenageado tem muito mais história para contar. Escorpiano, nascido em 26 de outubro de 1942, nesta cidade, foi aluno da primeira turma do Colégio Estadual Manoel Ribas.

Ele, que relembra emocionado dos anos de Maneco, conta que em 2020 teve uma oportunidade de revisitar a escola em que cresceu, ao lado de um dos seus colegas:

– Eu entrei ali com 6 anos de idade e saí em 1963 para fazer o vestibular direto para a UFSM. Eu tenho minha vida escorrendo naquela escola. Aquele prédio está ligado à minha vida. No ano retrasado, meu colega de Ginásio (atual Ensino Médio), veio a Santa Maria comemorar os 55 anos de formatura da nossa turma. Só eu e ele. Nós fomos ao Maneco. Fomos na nossa aula, ele sentou no banco dele e eu no meu banco, ao lado. Choramos abraçados.

Em 1963, James entrou para a segunda turma de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria. Lá, por convite do professor Armando Adão Ribas e com a assinatura de Mariano da Rocha, fundador e primeiro reitor da instituição, tornou-se o primeiro monitor da universidade devido a nota de 9.9 em uma disciplina. O cargo de monitoria acabara de ser criado naquela época no Brasil.

– Para mim, era uma honraria, porque os outros eram meus professores. Nos congressos, o doutor Armando me levava e eu assistia. Assistia também as aulas teóricas dele.

Devido ao seu destaque no curso, James começou a lecionar as aulas práticas dentro da disciplina ministrada pelo professor Armando. No final da faculdade, recebeu um desafio de última hora. Conduzir uma aula teórica sobre insetos. Conforme relembra, a aula foi um sucesso e, a partir do seu desempenho, foi indicado para ser professor do curso de Agronomia, após sua formatura, em 1966. Isso em uma época em que não existiam concursos públicos e a escolha dos professores se dava por indicação.

De lá até 1996, foram quase 40 anos como professor universitário nos cursos de Agronomia, Ciências Biológicas, Engenharia Florestal, Zootecnia e do curso de Geógrafo. Co-fundador de diversos cursos, também deu palestras por todo o Rio Grande do Sul e se tornou o primeiro especialista em Ecologia da UFSM. Este título adquirido em 1972 na Universidade Federal do Paraná, para isso, precisou morar por mais de dois anos em Curitiba.

Referência no assunto a partir de então, tornou-se chefe da disciplina de Ecologia da UFSM. Também conseguiu inserir a matéria no vestibular da universidade, incentivando as escolas de ensino médio a prepararem os alunos sobre o tema. Pelas suas contribuições a ecologia, James recebeu o título de Engenheiro Florestal Benemérito pela Sociedade Brasileira de Engenharia Florestal.

Polivalente, também expressou vocação para o rádio. Na Rádio Universidade apresentou por 26 anos o programa Antes que a Natureza Morra. Com uma história já rica em conquistas, buscou defender a ecologia no debate público. Durante o final dos anos 80 e início dos anos 90 foi vereador com agenda voltada para a preservação do meio ambiente.

Em 1996 aposentou-se da UFSM. Mas a vontade de transmitir conhecimento persistiu. Após um período difícil, decidiu voltar a dar aulas, desta vez, em cursos pré-vestibulares e escola. Nesta posição, permaneceu por cerca de 10 anos. Já no final dos anos 2000, ele e a esposa resolveram por uma mudança de ares. Foram cinco dias fazendo as malas, apenas com roupas e um computador. O destino foi a Praia de Canasvieiras, em Florianópolis. As férias na capital de Santa Catarina duraram 10 anos.

– Nós fomos sem avisar ninguém. Quando nós chegamos na rodoviária, pegamos um táxi e o motorista perguntou onde queríamos ir. Eu disse “eu quero ir em Canasvieiras, em uma pousada bem no centro. O cara chegou lá de tardinha e estava escrito “Pousada Central” e ele disse “está aqui o que o senhor quer”. Ali nós ficamos 15 dias até achar um apartamento.

Há cerca de cinco anos, o casal decidiu retornar para o Rio Grande do Sul, devido ao desejo de conviver com a família e compartilhar suas histórias com os netos.

James Pizarro ao lado da esposa Vera Maria Cump. Eles são casados há 57 anos. Foto: Denzel Valiente (Diário)

Hoje octagenário, James Pizarro aproveita os dias com a esposa Vera Maria Cump. A ela, inclusive, ele não economiza elogios. O casamento e o companheirismo que já dura 57 anos, é segundo James, o principal motiva para ter chegado bem e feliz aos 80 anos.

Mesmo estando aposentado das salas de aula, James não pretende parar tão cedo. Adepto às novas tecnologias, ele alimenta com fotos e textos um perfil no Facebook repleto de amigos, alunos e fãs. Amante da tradição, diz não dispensar o prazer de folhear um jornal impresso pelas manhãs. É um dos primeiros assinantes do Diário, onde também publica seus artigos. Colunista e cronista, alimenta dois blogs na internet. Um que leva seu nome e outro focado na ecologia.

Os dias no apartamento bem localizado em um prédio histórico no Calçadão Salvador Isaia são mesclados com passeios pelo centro, visitas dos familiares e um hobby que compartilha com a esposa: colecionar álbuns de figurinhas. São mais de 100 álbuns organizados em uma prateleira. Com orgulho de sua história, do casamento, dos filhos e netos, James Pizarro brinca que já está com a vida encaminhada e diz que vive agora para aproveitar o crescimento da neta de seis anos, a mais nova entre seus seis netos.

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